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Foto do escritorFernanda Tenório

Pensamento sistêmico: estamos todos conectados por natureza

A história da espécie humana começa há cerca de 200 mil anos atrás, resultado da evolução dos macacos, nossos parentes mais próximos. Por milhares de anos, vivemos na selva como apenas mais um dos animais, sobrevivendo da caça e da coleta de frutos e se locomovendo como nômades.


Mas o surgimento da agricultura, há cerca de 12 mil anos atrás, mudou a história e deu início a um processo de dominação da natureza pelo homem. O cultivo de alimentos em um lugar fixo originou os primeiros assentamentos humanos, acompanhado pela criação e domesticação de animais até então selvagens.

A agricultura, portanto, marca o início de uma era na qual o homem passou a adquirir imenso conhecimento sobre o meio natural e a modificá-lo para melhor atender às suas necessidades. Como consequência, surgem o comércio e a construção de cidades, onde a aglomeração humana permitiu a troca de saberes, o aprimoramento de técnicas, o surgimento da indústria e a consolidação da ciência como forma de aprender cada vez mais sobre o mundo. Este processo de ascensão da civilização moderna certamente mudou a forma como os seres humanos passaram a enxergar e a entender o meio ambiente.


Fizemos a transição de “selvagens primitivos” subordinados às condições extremas da natureza e aos perigos da floresta para “homens civilizados”, que constroem suas casas, produzem seu alimento, fabricam suas roupas. A industrialização e a urbanização nos distanciaram do ambiente natural e dos processos necessários para nossa sobrevivência.


Hoje, a maioria de nós já não cria animais nem cultiva vegetais, pois compramos os produtos finais no supermercado. Nossa água sai pela torneira, nosso lixo é coletado na porta de casa. A modernidade certamente trouxe diversos avanços e nos ofereceu uma vida confortável, mas também nos afastou dos ciclos naturais da Terra, tornando-os menos visíveis no dia-a-dia. Com frequência, esquecemos que somos parte integrante do meio ambiente: precisamos dele para sobreviver e tudo o que fazemos traz consequências para a saúde dos ecossistemas.



A teia da vida

Os seres humanos e a natureza estão conectados de várias maneiras. Dependemos de recursos naturais como ar, água, alimentos e matérias-primas para sobrevivência e bem-estar. Por outro lado, nossas atividades ocasionam impactos como desmatamento, poluição e mudança climática, que prejudicam serviços ecossistêmicos de polinização, purificação da água e regulação do clima, aspectos cruciais para a manutenção da vida.


Ao contrário da maioria das sociedades urbanas, muitas comunidades tradicionais que ainda vivem em ambientes mais naturais mantêm uma profunda conexão espiritual e emocional com a natureza, vendo-a também como uma fonte de inspiração, recreação e cura.


A relação entre homem e natureza é complexa e dinâmica, e é importante entendê-la e gerenciá-la de forma sustentável para o benefício de ambas as partes. Para isso, é preciso pensar de forma sistêmica.


O que é o pensamento sistêmico?


O pensamento sistêmico é uma abordagem holística para a solução de problemas que considera a interconexão e a interdependência dos elementos dentro de um sistema. É baseado na ideia de que o comportamento de um sistema como um todo não pode ser totalmente entendido examinando suas partes individuais isoladamente, mas sim através da compreensão das relações e dos ciclos de feedback entre essas partes. Assim é a Terra: um só organismo, no qual cada parte exerce uma função que influencia as outras partes - um sistema complexo e integrado.


O todo é maior que a soma das partes

- Aristóteles.

Dessa forma, toda ação tem consequências para o meio ambiente e seus elementos - animais, florestas, seres humanos, e as interações entre eles. Tudo está interligado em uma espécie de teia da vida, sendo o ser humano apenas mais um elo dela. O lixo que é coletado na nossa casa, como mencionado anteriormente, não desaparece simplesmente. Não existe “jogar fora” na natureza. Esse lixo vai para algum lugar e gera algum impacto. Pode por exemplo, contaminar o lençol freático de uma região e comprometer o abastecimento de água da comunidade no entorno.


Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra. Todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Tudo está associado. [...] O homem não tece a teia da vida; é antes um de seus fios. O que quer que faça a essa teia, faz a si próprio.

- Cacique Sealth


O pensamento sistêmico considera as consequências indiretas e de longo prazo das ações, reconhece a complexidade e a natureza dinâmica dos sistemas do mundo real e procura identificar e alavancar os relacionamentos e padrões para criar mudanças positivas. É o caso da permacultura, por exemplo, um sistema de princípios de design agrícola e social centrados em simular ou utilizar padrões observados nos ecossistemas naturais.


O termo permacultura foi originado do inglês Permaculture, e significa cultura (ou cultivo) permanente, o que evidencia a sustentabilidade a longo prazo proporcionada pelo sistema. Ela reforça o uso da diversidade, cooperação e ciclos fechados de energia e materiais (ou seja, evita perdas desnecessárias) e visa criar assentamentos humanos sustentáveis ​​e sistemas de produção de alimentos. Alguns dos benefícios potencializados pela permacultura são:


Sustentabilidade

As práticas visam criar sistemas sustentáveis ​​que possam atender às necessidades humanas das presentes e futuras gerações sem sobrecarregar o meio ambiente.


Maior rendimento

Ao trabalhar com ecossistemas naturais, a produtividade de um pedaço de terra pode aumentar.


Redução de resíduos

Os princípios enfatizam a reutilização e reciclagem de recursos, reduzindo o desperdício e a necessidade de novos insumos.


Conservação do solo

Usar culturas de cobertura e compostagem ajudam a conservar a saúde e a fertilidade do solo.


Conservação da água

Os princípios de design podem ajudar a conservar a água, captando e retendo a chuva, reduzindo o escoamento e usando plantas tolerantes à seca.


Biodiversidade

Promoção da biodiversidade e de um ecossistema saudável, usando uma variedade de espécies de plantas e animais em seus sistemas. Agrotóxicos, por exemplo, podem ser substituídos por animais inimigos naturais das pragas, prática conhecida como controle biológico de pragas.


Construção da comunidade

Possibilidade de unir as pessoas para trabalhar em objetivos comuns, promovendo o desenvolvimento da comunidade e construindo capital social.

A prática da permacultura é um exemplo clássico de como podemos aplicar o pensamento sistêmico para gerar impactos positivos nos ecossistemas!


Um convite para se reconectar e cuidar do meio ambiente

Conexão e cuidado estão intimamente relacionados. Ambos desempenham papéis importantes na construção de relacionamentos fortes e na promoção do bem-estar. Sentir-se conectado a outras pessoas e lugares pode proporcionar uma sensação de pertencimento, segurança e apoio. E cuidar refere-se ao ato de mostrar preocupação, compaixão e fazer um esforço para apoiar e proteger aquilo que se ama.


Quando as pessoas vivenciam o mundo natural, a conservação ecológica é fortalecida. Isso porque experimentar a natureza gera uma conexão e apreciação mais profundas, contribuem para a melhor compreensão de sua beleza e complexidade e fomentam o desejo de protegê-la. De fato, estudos mostram que passar tempo na natureza é um grande preditor de hábitos sustentáveis.


Essas experiências também podem desempenhar um papel importante na conscientização, dando visibilidade a problemas ambientais como poluição e perda de habitat, e inspirando as pessoas a se tornarem mais ativas na defesa do meio ambiente - seja pela adoção de melhores práticas no cotidiano, ou por meio de voluntariado e doações para organizações que cuidam do meio ambiente.


Além disso, a exposição a paisagens naturais faz as pessoas se sentirem melhores do ponto de vista emocional e contribui para o seu bem-estar físico, reduzindo a pressão arterial, a frequência cardíaca, a tensão muscular e a produção de hormônios do estresse. Uma pesquisa com quase 20 mil indivíduos realizada em 2019 concluiu que quem passa ao menos duas horas por semana na natureza é mais saudável, declara maior bem-estar e alega ter menos sentimentos negativos.


Então fica o convite:

Que tal se reconectar com a natureza e o mundo ao seu redor? Você pode começar de maneira simples, fazendo um passeio no parque da sua cidade ou indo à praia no final de semana.



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